Carolaine Palavski tem 18 anos e concluiu o ensino médio em
uma escola pública de Caçador, em 2020. Antes da pandemia, 2020 parecia ser um
ano de decisões sobre o futuro para muitos jovens. Mas, no caso de Carol, os
planos precisaram ser adiados. A realidade é que a jovem não se sente prepara e
segura o suficiente para realizar a prova em meio a uma pandemia e depois de
um ano considerado trágico para a educação.
O Enem 2020 estava previsto para ocorrer em novembro, mas,
em maio do ano passado, foi remarcado para 17 e 24 de janeiro (versão
impressa) e 31 de janeiro e 7 de fevereiro (versão digital). Ao
todo, 5.783.357 candidatos estão confirmados.
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Carol é uma jovem que faz parte do grupo de milhares de
brasileiros que desistiram de fazer a prova. “Infelizmente desisti de fazer o
Enem. O ano de 2020 foi bem complicado, exigindo maior esforço da parte dos
alunos, participar das aulas, fazer trabalhos, provas, exercícios sem a ajuda
de um profissional”, destaca Carol, sobre as dificuldades na mudança do ensino.

Carolaine Polavski - 18 anos - desistiu de fazer o Enem
Além disso, a pandemia causou outro impacto nas famílias: o
financeiro. Carol também começou a trabalhar em 2020, diminuindo assim o seu
tempo livre para o estudo. “Também a falta de tempo para estudar já que este
ano comecei a trabalhar, o cansaço muitas vezes atrapalha, horários então, nem
se fala. Eu desisti de fazer exatamente porque sabia que tiraria uma nota muito
baixa. Quero poder me esforçar mais na próxima prova e tirar uma boa nota”,
disse.
Quem conseguiu, mesmo com esses obstáculos, estudar para o
Enem e passar de ano com notas boas, realmente é uma pessoa muito preparada e
esforçada.
Carol pretende fazer Engenharia Agrônoma. Ela irá se
preparar para realizar a prova no próximo ano. Para a prova que acontece no
próximo domingo, Carol é a favor do adiamento. “Além de correr vários riscos
durante a prova, a maioria dos estudantes que fazem a prova trabalham e com
esse ano tivemos que redobrar os esforços. O que já era difícil, se tornou mais
difícil ainda, tempo para estudar e se organizar é raro. Por isso sou a favor
do adiamento da prova”, destacou.
Maioria dos jovens é
contra a realização das provas do Enem
A pesquisa "Juventude e Pandemia do Coronavírus" aponta
que 49% dos jovens entrevistados já pensaram em desistir do Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) 2020. O levantamento ouviu 33.688 jovens de 15 a 29 anos de
todo o Brasil. Os dados mostram que a instabilidade, tanto financeira como
emocional, causada pela pandemia do coronavírus levaram à incerteza
sobre a realização do exame. Além disso, 28% dos entrevistados pensaram em
deixar a escola, e 32% afirmam que falta um ambiente tranquilo para estudar em
casa.
A pesquisa foi realizada em conjunto pelo Conselho Nacional
da Juventude (Conjuve), Fundação Roberto Marinho, Unesco, Rede Conhecimento
Social, Em Movimento, Porvir, Mapa Educação e Visão Mundial.
A pesquisa apresenta a realidade também do município de
Caçador. O jovem Maycon Alencar de Andrade, 19 anos, presidente do Grêmio
Estudantil, finalizou o ensino médio em uma escola pública em 2020. Ele optou
por fazer a prova do Enem no próximo domingo, mas não tem boas expectativas.

Maycon Alencar de Andrade - 19 anos - presidente de Grêmio Estudantil
“Não tenho uma expectativa muito boa em relação ao Enem em
meio a pandemia por vários fatores. Um dos principais é que não tivemos total
apoio dos professores no ano de 2020, não deu para sanar totalmente as dúvidas
referente ao Enem e aos conteúdos trabalhados. Nós, do grêmio estudantil, como
representantes dos alunos, postávamos vários e informações do INEP em nosso
story do Instagram, tentando amenizar a situação”, diz Maycon.
Maycon pretende cursar Pedagogia. Apesar de escolher
realizar a prova, ele é a favor do adiamento do Exame. “Eu particularmente acho
que os alunos não estão preparados. Muitas pessoas que fizeram as inscrição, no
decorrer do ano acabaram desistindo. Ainda não estamos totalmente seguros,
mesmo cumprido todas as normas de segurança, este ainda não é o momento”, destacou.
Além de Maycon, a aluna Georgia Luíza Milek Laskoski, 17
anos, também acredita que o momento não é propício para a realização do Exame.
“Mesmo querendo muito realizar o Enem pelas possibilidades de ingresso na
faculdade é necessário pensar no coletivo, e independentemente de todas as
medidas de segurança, ainda existe a chance de ser contaminado. Além disso,
também pode ocorrer a "desistência" de estudantes que possuem
doenças respiratórias crônicas como a bronquite e a asma ou doenças como a
hipertensão e a diabete, no caso de um estudante com alguma dessas doenças
contrair a Covid, o risco de o vírus reagir mal no organismo é superior ao de
um estudante saudável” destaca.

Georgia Luíza Milek Laskoski - 17 anos - sente as dificuldades em realizar a prova neste momento
“Acredito que o
Ministério da Educação tem todas as condições para aplicar a prova”, diz
professor de Caçador
A maioria dos alunos que estavam cursando o terceiro ano
durante o período de pandemia passou por inúmeras dificuldades. Em um ano cheio
de expectativas, o ano que era para ser o ano da vida deles, começou a se
tornar algo completamente improvável. O
professor Pedro Paulo Baruffi dedicou a pesquisa de mestrado aos alunos do
Ensino Médio. Fazendo uma reflexão sobre o assunto, ele aponta as disparidades
sociais, angústias, indecisões, medos, superações um amontoado de situações
dentro das salas de aula.
“Grande parte dos estudantes da rede pública, muitas das
vezes são incentivados pelos professores, pela própria escola, então eu tenho
um certo medo que os nossos estudantes não tenham sido incentivados o
suficiente para estarem participando das provas. Além disso, nós sabemos que
muitos alunos tiveram que ter uma rotina de muita autonomia para se organizarem
e não perderem o foco e levando em consideração às desigualdades que nós temos
em nosso país eu fico muito preocupado se nós não estamos prejudicando os estudantes
com essa prova”, destaca.

Professor Pedro Paulo Baruffi cobra ações que diminuam as diferenças sociais na educação
Pedro é a favor da realização da prova do Enem, com a
certeza de que muitos alunos colocaram a muitas expectativas em cima desta
nota. “Quando falamos dos estudantes da escola privada, temos um caminho as
vezes diferente. Mas eu ouço e sinto uma insegurança, angústias e medos, então há problemas sérios para todos os
nossos estudantes. Eu não sou a favor de adiar o ENEM, acredito que ele precisa
ser realizado em janeiro, tenho certeza que o ministério da educação tem todas
as condições para aplicar a prova de uma maneia segura, até porque nós sabemos
que tem estudantes que apostam o futuro todo nesse próximo ano e até mesmo
outros que já vem de outros anos esperando essa nota para entrar na
universidade, para muitos a vida toda deles está nessa prova”.
Pedro ainda destaca que o governo dos estados deveriam
proporcionar uma espécie de cursinho para que esses alunos que concluíram o
terceiro ano em 2020, pudessem fazer revisões neste primeiro semestre de 2021,
com aulas presenciais, aulas gravadas em formato de vídeos e que na metade do
ano fosse aplicado um outro ENEM. “Isso aconteceria pensando especificamente no
tamanho da desigualdade desse país e tentando ser um pouco mais justo. 2020
nunca mais será esquecido, por isso penso que precisamos pensar com todas as
especificidades a educação desse país”, destaca.
Pedro enfatiza que é a favor da realização da prova em
janeiro, mas cobra que o Estado de atenção aos alunos que tiverem dificuldades,
ofertando uma nova oportunidade. “Então para concluir eu apoio a aplicação da
prova como está marcada, porém gostaria muito que o ministério da educação
pensasse outras políticas pensando em muitos estudantes que de fato foram
prejudicados na pandemia, além disso que os estados e as redes privadas
fornecessem subsídios para que os alunos concluintes do Ensino Médio em 2020
tenham oportunidades de revisão e recuperação para se prepararem pra uma nova
prova em julho ou dezembro, assim eles teriam mais segurança para fazer essa
prova”, finaliza Pedro.